domingo, 7 de setembro de 2008

A paz é uma roupa macia e confortável


Um homem veio a um alfaiate para experimentar um terno. Parado diante do espelho, ele percebeu que o colete estava um pouco irregular na parte inferior.

- Ora - disse o alfaiate - Não se preocupe com isso. Basta você puxar a ponta mais curta para baixo com a mão esquerda que ninguém jamais vai perceber nada.

Enquanto o cliente fazia isso, ele notou que a lapela do paletó estava com a ponta enrolada em vez de rente.

- Isso? - perguntou o alfaiate. - Isso não é nada. É só você virar a cabeça um pouquinho e segurar a lapela no lugar com o queixo.

O freguês obedeceu e, quando o fez, observou que a costura de entrepernas estava meio curta e que o gancho lhe parecia um pouco apertado demais.

- Ora, nem pense nisso. Puxe o gancho para baixo com a mão direita, e tudo vai ficar perfeito. - O freguês concordou e comprou o terno.

No dia seguinte, o homem estreou o terno com todas as alterações de queixo e mãos. Enquanto ia mancando pelo parque com o queixo segurando a lapela no lugar, uma das mãos puxando o colete e a outra mão agarrada ao gancho, dois velhos pararam de jogar damas para vê-lo passando com dificuldade.

- Meu Deus! - disse o primeiro velho. - Veja aquele pobre aleijado.

O segundo homem refletiu por um instante antes de sussurrar:

- É, ele é bem aleijado mesmo, mas sabe o que eu queria saber...onde será que ele comprou um terno tão elegante?
. . . . . . . . . . . . . . . .

(História retirada do livro Mulheres que Correm com os Lobos, de Clarissa Pinkolas Estés).


Este livro tem lições preciosas, me foi recomendado no fatídico ano de 2005 por uma excelente terapeuta que me ajudou muito a perceber os esforços que eu fazia para ajeitar coisas que não estavam muito certas na minha vida.


Hoje, feriadão em Curitiba (amanhã é dia da padroeira), enquanto curtia um domingão preguiçoso perfeito, sem compromissos, maquiagem... somente paz e descanso, me peguei filosofando ao lado da churrasqueira. Comia uma carne deliciosa feita especialmente minutos antes, os pratos sobre a mesinha da sacada, o pãozinho repartido com as mãos mesmo...


Ah, como é bom a gente se conhecer melhor e poder perceber que, em algum momento da vida, estávamos preocupados demais com algo externo, tipo aceitação dos outros ou convenção social, que reprimia a nossa própria natureza?


Como li outro dia em um blog que coincidentemente também trazia este mesmo texto: "todos nós fazemos alguns ajustes para viver em sociedade, mas podemos prestar mais atenção se não estamos ficando aleijados...no coração e na alma."

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