quinta-feira, 25 de março de 2010

Julia & Me


Perdi o vôo. Foi o custo de 15 minutos a mais de abraços e beijos com o meu filhote. Duas horas e meia de espera no aeroporto, alguns emails para botar em dia... Me parece um preço justo, pago com prazer.

Aproveito parte do tempo para continuar a leitura de um livro delicioso que baixei no Kindle.

My Life in France conta a vida da culinarista Julia Child e os eventos que a levaram a tornar-se uma das maiores apresentadoras de TV nos EUA deste tipo de programa. Parece bobinho, mas estou adorando e, curiosamente, me identificando muito com a Julia.

Sempre tive uma atração enorme pela França e sua cultura, a forma como se preservam e defendem algumas instituições como os queijos, a arquitetura, os pequenos comércios, as artes, os pães e a culinária em geral. E confesso que é difícil imaginar que uma americana como Julia seria capaz de mergulhar tão profundamente na cultura de outro país e influenciar toda uma geração de donas de casa para buscar sabores mais naturais e autênticos, dando-se a oportunidade de ter prazer ao preparar e degustar comida de verdade em sua própria casa.

O livro conta como ela despertou uma vocação adormecida. Julia não cozinhava nada até os 37 anos. Como um estudante de artes ou um aspirante a escritor, que ao tomar contato com obras primas começa a despertar sua vontade de expressar sua própria arte, ela começou a frequentar com o marido (ele próprio um gourmet), transferido por motivo de trabalho para Paris, diversos restaurantes e aprender a apreciar cada vez mais esta culinária tão encantadora. Sozinha e sem ocupação em seus primeiros meses em Paris, ela começou a experimentar por conta própria, lendo diversos livros. Porém, logo sentiu vontade de uma orientação mais profissional - e tornou-se aluna da célebre escola Cordon Bleu. Percebeu a oportunidade de passar adiante estes conhecimentos e dar a chance de outros poderem trazer mais encantamento, mais alma e mais sabor para a vida de outras famílias.

Mesmo imersa totalmente na cultura francesa, ela manteve a essência yankee, claro. Trouxe uma abordagem mais pragmática para a forma de ensinar as receitas, fazendo diversas experiências e buscando o passo a passo compreensível para cada receita, desde a mais simples até a mais complicada.

A busca da nossa própria voz é uma das mais válidas da vida, além de toda a questão de se trazer mais alma para dentro de um lar. Trata-se de uma tendência importante, que já vem sendo mapeada por diversos institutos de pesquisa, as pessoas estão se voltando para alguns valores mais tradicionais em busca de suas raízes culturais e um senso mais forte de identificação pessoal.

Voltando a Julia Child. Recentemente, esteve em cartaz o filme "Julie e Julia", que conta a história de uma blogueira que testou durante um ano todas as receitas do livro escrito por Julia (Mastering the Art of French Food, resultado de quase 4 anos de trabalho).Estou louca pra ver este filme, ainda não deu tempo, dizem que a atuação da Meryl Streep como Julia Child está fantástica. Ela não chegou a ver o filme, pois morreu um ano antes, mas ouvi dizer que não gostava do blog, provavelmente porque a autora muitas vezes ironiza ou deprecia alguns detalhamentos das receitas (coisa que Julia levava muito a sério). O livro Julie e Julia também não parece ser grande coisa, como a maioria dos blogs que viram livros perde um pouco o "frescor" da linguagem mais rápida da internet em uma versão condensada. Mas como roteiro para o cinema parece ser interessante, ainda vou dar um jeito de conferir e comentar por aqui.

Bom, o livro My Life in France é maravilhoso, recomendo. Foi escrito pelo sobrinho de Julia com base nas conversas que tiveram um ano antes da morte dela. Provavelmente, ela tenha sentido vontade de deixar sua própria versão dos fatos ao ler o blog. A cada capítulo, sinto uma invejinha desta mulher que viveu na França do pós guerra, em meio ao romantismo de pequenos cafés e restaurantes, passeios no mercado de Les Halles, caminhadas ao anoitecer pela colina de Montmartre ou no cais em Marseille. O livro é para ser saboreado, pois há descrições detalhadas dos pratos e pesquisas feitos pela culinarista. Lembra um pouco aquele maravilhoso filme Festa de Babette, onde também há a exaltação da culinária francesa.

Não sei se algum dia aprenderei a cozinhar, tenho dificuldade até com as coisas mais básicas! Acho maravilhoso quem sabe, considero a culinária como uma arte.  Mas a primeira influência de Julia em minha vida foi voltar a consumir manteiga, saboreando cada fatia com gosto!

"Temos que buscar o melhor sabor em cada experiência" e "sem exageros, tudo é possível", estes são os grande ensinamentos da culinária francesa que certamente se aplicam em uma escala mais ampla na vida.

Pra quem se interessou mais, tem uma boa reportagem sobre o filme+blog no blog  Food Renegade (um blog pra quem gosta de comida de verdade)
http://www.foodrenegade.com/julie-and-julia-a-lovable-movie/#more-1231